ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 3:55:44

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O Pagamento de uma promessa e as (duras) lições aprendidas – parte final

Caros leitores, eu agradeço a paciência que vocês tiveram de ler minhas sete colunas até agora, e informo-lhes que essa será a última sobre a peregrinação a Santiago. Quando completei o caminho, anotei 14 lições. Ao longo dos últimos anos, entendi mais três. Em tese, poderia continuar essa coluna com essas outras lições; entretanto, creio que as mais importantes já foram escritas e iria cansá-los se continuasse. Talvez desenvolva esses tópicos restantes no futuro, o tempo dirá.

O cerne da questão, que tentei transmitir até agora, é: acredito que todos que fazem esse caminho abençoado recebem as lições que precisam receber. É como se cada um fosse acompanhado por um professor particular para que aprenda algumas lições imprescindíveis para si (que na minha fé creio ser o anjo da guarda de cada um, obedecendo ao Espírito Santo), então cada peregrino aprenderá lições diferentes, condizentes com suas próprias fraquezas, erros e necessidades, para que termine o caminho uma pessoa melhor.

Desta forma, recomendo: quem puder faça. Eu pretendo voltar e fazer o caminho completo mais conhecido, que dura aproximadamente trinta dias, saindo da França e atravessando os Pireneus. Quem não puder ir ao exterior, no Brasil mesmo há algumas opções de peregrinações com longas caminhadas e silêncio, necessários para a reflexão com oração.

Retomando o relato, no oitavo dia fomos à missa dos peregrinos. Como a Catedral de Santiago estava em obras, a missa foi realizada na Iglesia de San Francisco, que faz parte de um convento franciscano fundado pelo próprio São Francisco de Assis em 1214, quando da peregrinação que ele realizou, e que também abriga um hotel, um restaurante e um museu. É um complexo lindo e majestoso, uma joia arquitetônica, histórica e espiritual.

A cerimônia em si é tocante: lotada, com peregrinos de todo o mundo, muitos chorando de emoção ou dor, pelos machucados obtidos no caminho. Eu e Roberta nos emocionamos muito, não consigo descrever a experiência em palavras.

Sentimos falta apenas do famoso “Botafumeiro”, incensário gigante que na missa dos peregrinos realizada na catedral de Santiago é balançado por vários padres, de tão pesado, e que preenche o templo com cheiro de incenso. Espetáculo inesquecível, foi o que ouvimos na cidade, mas não vimos.

Nos outros dois dias que ainda ficamos na cidade descansando, fomos a alguns lugares, dos quais destaco o museu do povo galego e uma igrejinha bem próxima à catedral da qual não me recordo o nome. Linda, com uma música religiosa baixinha tocando o tempo inteiro, com um leve cheiro de incenso constantemente queimando, com uma área para acender velas e fazer pedidos, com várias publicações de revistas religiosas disponíveis para quem quisesse, de graça.

Era um lugar especial, de paz, com poucos frequentadores e silencioso, onde pude refletir muito.

E agora chegamos ao principal: qual a lição mais importante que entendi nesses três dias pós-chegada?

Parece óbvio, mas não é.

Ler diariamente lições aprendidas no caminho e outras anotadas anteriormente, conhecimento adquirido e acumulado na vida”.

A questão é que nós humanos tendemos a repetir os erros cometidos, várias vezes. Cada um que me lê reflita se não já repetiu o mesmo erro, mesmo sem querer.

Por isso acredito piamente que os animais são mais sábios que nós, embora sejamos mais inteligentes. Porque um cavalo não cai duas vezes no mesmo buraco.

E por que isso?
Na minha humilde visão, São Paulo nos explicou isso em Efésios 6,12: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.

Para quem não entendeu, explico. Se você é cristão, leiam-se demônios ou anjos maus. Cada religião os chama de um nome diferente, mas todas que conheço acreditam neles.

Portanto, nós humanos somos tentados para fazer o mal, o que não agrada a Deus, o que não é a vontade de Deus para nossa vida, e por isso tendemos a cair nos mesmos erros sempre.

E para escapar desse círculo vicioso, só usando a inteligência e sabedoria que Deus nos dá, refletida no que aprendemos na nossa vida, nas nossas experiências e nas de outras pessoas também, na ciência (psicologia, psiquiatria e outras) e principalmente sustentado em ficar cada vez mais próximo a ELE, o Todo-Poderoso.

No dia 20/6/2019 voltamos ao Brasil, e passei um tempo fazendo o que eu aprendi nessa lição de hoje, lendo pelo menos semanalmente as lições aprendidas na peregrinação e outras que já tinha anotadas. E então, passei a ler menos e depois parei de ler.

Por isso decidi escrever essas experiências, primeiro para mim mesmo, para solidificar o aprendizado. E depois para, quem sabe, ajudar algumas pessoas.

Curiosidade 1: Como já contei, o escritor Paulo Coelho lançou seu primeiro livro de sucesso, o Diário de um Mago, em 1987, após fazer a peregrinação a Santiago. Como exemplo das transformações na vida de muitos, a dele até então havia sido muito problemática. Ele próprio conta isso na sua biografia, escrita por Fernando Moraes, com o sugestivo título “O Mago”, pela editora Planeta. E então ele faz o caminho, perto de completar 40 anos, lança o livro, e vira uma celebridade internacional, escritor brasileiro mais vendido de todos os tempos e multimilionário.

Curiosidade 2: Das três peregrinações católicas mais famosas (Roma, Jerusalém, Santiago), para mim a melhor é Santiago. Roma é uma cidade muito grande e o vaticano é um destino muito turístico, então não se sente essa energia pulsante em Santiago, aonde quase todos que vão têm um objetivo espiritual (não necessariamente religioso, mas de reflexão sobre a vida). E Jerusalém é uma cidade no meio de um conflito interminável, além de praticamente impossível de se chegar caminhando.

Curiosidade 3: Para quem quiser fazer o caminho de Santiago, sugiro entre maio e junho ou entre setembro e outubro, quando não está nem tão frio nem tão quente.

Curiosidade 4: Para quem achar ser loucura ou radicalismo o que escrevi acima, sugiro ler o que disse o então Papa Paulo VI, em audiência geral no vaticano na data de 15 de novembro de 1972, com o título “livrai-nos do mal”.  É um texto curto, de mais ou menos 10 páginas, mas que diz sem meias palavras e com coragem tudo sobre o tema. Inclusive o Papa na época foi muito criticado, mas não recuou um centímetro.

E aqui termina a minha coluna sobre Santiago de Compostela. Sugiro que você leia as oito colunas novamente, o entendimento será melhor. Se você acessar a ajn1.com.br/colunistas, estão todas lá.

Daqui por diante, pretendo continuar a escrever uma coluna, sem periodicidade definida (quando eu entender que tenho algo relevante para escrever), sobre temas variados, inclusive espirituais, se Deus quiser. Até a próxima!